Crítica: The Runaways – Garotas do Rock pelo site Omelete

Crítica: The Runaways – Garotas do Rock
História da primeira banda só de garotas é enfraquecida pelos clichês das cinebiografias de música

Carina Toledo
24 de Setembro de 2010

Estados Unidos, 1975. Cinquenta e três anos depois que as primeiras mulheres foram eleitas para o senado, doze anos após o primeiro voo de uma mulher no espaço, três anos passados desde que a igualdade de direitos entre mulheres e homens foi garantida pela 27ª emenda e apenas dois anos após a legalização do aborto. E, no meio disso tudo, havia o rock’n'roll.

Em toda parte nos EUA, mulheres desfilavam suas saias e sapatos de salto em escritórios dominados por homens, servindo café, atendendo telefones e sorrindo amavelmente – mas cada uma nutrindo em seu interior a esperança de ser a primeira a quebrar a barreira do machismo e destacar-se no mundo profissional. Foi esse mesmo sentimento que motivou Joan Jett (Kristen Stewart) a pegar uma guitarra, aprender a tocar e então formar o The Runaways, primeira banda de rock só de garotas. Logo nas primeiras cenas percebemos a hegemonia masculina na música, quando o professor de Jett deixa bem claro que “meninas não tocam guitarra elétrica“.


A inadequação social e inquietação de Jett são bem demonstradas por Stewart em The Runaways – Garotas do Rock (The Runaways, 2010), sempre retraída, tímida e masculinizada – passando bem longe da donzela em apuros de Crepúsculo. A banda se forma efetivamente quando entra em cena o produtor Kim Fowley (Michael Shannon), que apresenta Jett à baterista Sandy West (Stella Maeve). Mas, para ter apelo comercial, Fowley decide que o Runaways precisa de uma loira nos vocais: Cherie Currie (Dakota Fanning).

A Shannon, sempre vestido e maquiado de maneira excêntrica como Fowley, são reservados os melhores diálogos, como nas ótimas cenas em que as garotas ensaiam em um trailer e ele faz seus discursos em uma espécie de “treinamento militar do rock”. Com alguns shows – vaiados – nas costas, a banda cai na estrada pelos Estados Unidos e, depois de fechar contrato com a Mercury Records, embarca em uma turnê pelo Japão. É nesse trecho do filme que as músicas do Runaways ganham os videoclipes estilosos que nunca tiveram na época. As novas gravações cantadas pelas protagonistas também estão bem caprichadas, assim como as performances de Dakota Fanning no palco.

No entanto, a adrenalina causada pelo pioneirismo da banda logo vai se esvaindo, na medida em que fica claro que a estreante Floria Sigismondi, responsável pelo roteiro e direção, apenas repete a fórmula já gasta em outros filmes de rock. Momento “manchetes da imprensa voando pela tela”? Está lá. Excessos das drogas? Idem. Ego e fama subindo à cabeça, causando desentendimentos? Pode apostar.

Outra questão que enfraquece o filme é a parcialidade com que a história é contada. Com a verdadeira Joan Jett na produção-executiva e roteiro embasado na biografia Neon Angel: The Cherie Currie Story, The Runaways propositalmente deixa de fora a importante contribuição da guitarrista-solo Lita Ford. Os desentendimentos entre Ford e Jett não são segredo no meio musical, e a guitarrista é mostrada na trama apenas como encrenqueira que adicionou combustível às discussões, como se ela tivesse sido um pivô da separação do grupo. Em declaração à Rolling Stone, Lita Ford – cujas preferências sempre estiveram mais voltadas para o metal e hard rock -, revelou que se recusou a ceder sua história para o filme, uma vez que a produção ofereceu apenas 1.000 dólares pelos direitos.

Assim, a empolgante história da revolucionária banda de garotas adolescentes, que abriu portas para tantas outras mulheres no rock, é prejudicada pela própria equipe que se propôs a contá-la.



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